Monday, June 29, 2015

Decadência manufatureira



Entrei no setor de serviços no Canadá em meados de 2004, mais precisamente na província de Ontário. Primeiramente e por pouco tempo, no setor de entregas de eletrodomésticos e depois no setor de manutenção e limpeza comercial e industrial, até os dias atuais. Tinhamos uma abundância de trabalhos, por todos os lados. Escolhíamos preços e quando realizar o trabalho. O quadro que temos hoje em dia é bastante desestimulante, principalmente no setor manufatureiro. 

Quando as empresas tem lucro, elas precisam apresentar custos pra diminuir a conta de impostos. Quando não se tem esses lucros todos, não se pode contratar empresas de serviços, salvo as urgentes, pois passa a ser uma burrice tributária. Muitas empresas hoje em dia, grandes empresas, possuem grandes tambores de lixo nos corredores e os próprios funcionarios levantam no final do expediente pra esvaziarem suas próprias lixeiras. Isso gera desemprego pra quem prestava esse serviço anteriormente. Isso é apenas uma das facetas, mas os sinais estão por todos os lados.

Predominantemente, eu sempre tive contratos no setor manufatureiro. Esse setor corresponde por 170 bilhões de dólares ao PIB Canadense, e empregam cerca de 1,7 milhão de pessoas. Por coincidência, como frisei, eu adentrei na indústria justamente quando havia um declínio do setor manufatureiro. Entre 2000 e 2013, houve uma declínio de 14% do setor. No mesmo período, a economia canadense cresceu 37%. 

O Canadá enfrenta o problema geral da manufatura dos países do primeiro mundo, ou seja, a competição com países que possuem custos mais baixos de produção. Além disso, como o Canadá tem principalmente apenas um grande consumidor, os Estados Unidos, e eles estavam muito bem das pernas ultimamente, o fato acrescentou na crise manufatureira canadense. E mesmo com a economia americana dando sinais de recuperação, ainda vai ser relativamente devagar em comparação às economias emergentes.

Para agravar ainda mais o quadro, o setor manufatureiro canadense não está encontrando mão-de-obra qualificada, pois os engenheiros mecânicos, engenheiros eletricistas e engenheiros mecatrônicos que se formam nas universidades canadenses, estão todos conseguindo empregos nos Estados Unidos, onde os salários são mais altos e os impostos menos salgados. A equação é simples. Fazem universidade no Canadá, pois são mais baratas e depois descem em manada pro sul. Ou seja, a inovação não acontecerá por aqui.

Praxe tem se tornado que as empresas de serviços aceitem uma redução de 20 até 30% dos preços dos seus serviços, para se manterem abertas e funcionando. Com os preços do petróleo em baixa, a província de Alberta, onde está o óleo canadense, também está sofrendo. Por outro lado, existem grandes investimentos nas áreas de tecnologia de informação e saúde. Talvez seja esse o caminho.

O meu primeiro trabalho aqui foi em uma fábrica, ainda no segundo semestre de 2000. Na Ville de St-Laurent, perto de Montréal. O trabalho numa fábrica congela o tempo, ele não passa. O tédio e a repetição também pode impulsionar a turma a mudar de emprego sempre que podem, aumentando a rotatividade do setor. Acho que foi Bill Gates quem previu esse movimento de uma queda na manufatura Seja quem for, parece que está acertando, pelo menos no mundo ocidental americano frio.