Wednesday, March 29, 2017

Ataque as Torres Gêmeas - 21

Fiquei no Brasil até setembro de 2001, marcando minha passagem pro dia 11 de setembro de 2001, coincidentemente. Íriamos viajar à noite, eu e Luciano Berberick e fomos na agência STB, do meu amigo Maninho, buscar as passagens. Chegamos lá e estávamos esperando as passagens, que custavam 700 dólares na época, pra quem era estudante, quando vimos na televisão um prédio em Nova York pegando fogo.

Ninguém ali imaginava se tratar de um ataque terrorista, e sim de um acidente aéreo. Maninho então ligou pra tentar alguma informação com a Continental Airlines, foi quando foi informado que o espaço aéreo americano estava fechado. Resultado, só pudemos embarcar no dia 13 de setembro. Fizemos escala em Newark, New Jersey, uma das sedes de Continental e rumamos pra Montréal. Sobrevoamos Manhattan e ainda muita fumaça saía do lugar aonde eram as Torres Gêmeas.

Voltei às aulas do mestrado, e continuei fazendo um trabalho aqui e outro acolá pra me manter e toda noite eu dava uma surra de xadrez em Luciano. Entao o mesmo recebeu a visita da então namorada Lucianna. Inclusive tomamos uma cana de vodka na sexta-feira a noite, pesada. O resto da turma chegaria no sábado cedo: os primos Augusto e Maurício Benfica e Marcelo Toscano. Combinamos de pegá-los no aeroporto. Eu não acordei. Luciano, sem falar uma palavra de inglês ou francês, foi sozinho pegar um táxi e deixou Lucianna com a incubência de bater no meu apartamento até eu acordar e irmos ao encontro dele no aeroporto.

Lucianna que falava inglês, explicou ao taxista que era pra ir pro aeroporto, mas disse que Luciano já imitava as asas de um avião com os braços e fazia o barulho do motor pra ver se o taxista entendia que era aeroporto. Mas a volta de lá seria uma incognita. Depois de muito tempo, Lucianna conseguiu me acordar. Tomei um banho rápido e fomos pegar um onibus pra ir pro aeroporto. Pegamos o onibus errado. Depois pegamos o certo. Mas quando chegamos lá, já tinham ido embora.

Como Luciano fez? Comprou um mapa no aeroporto e uma caneta e circulou o endereço no mapa e apontou pro motorista. O taxista entendeu e lá se foram. Chegaram lá, a gente ainda devia estar indo. Mas deu certo, eles foram morar um tempo na casa de Danielle, esposa de Zumel, no bairro judeu de Outremont.

Lá, através dela, conheceram Dona Eva, uma brasileira que tinha um Pet Shop e era casada com um quebecois chamado Raymond. Por sua vez, Dona Eva conhecia uma senhora chamada Lena, que conhecia Olga, que tinha uma empresa de Limpeza também. Olga é uma portuguesa irmã de Miguel e os dois eram donos da empresa Soleil Net. Miguel anos depois casou com Flávia, prima de Maninho da agência que nos vendeu a passagem. Flavia continua casada com Miguel e tem duas meninas lindas e um rapaz mais novo. Miguel conheceu Flávia através da gente que fomos trabalhar com ele.

Augusto foi trabalhar a noite toda no Hotel de la Montagne e ainda fazia a boate Thursdays. Mauricio ficou fazendo trabalhos esporádicos e Marcelo só estudava. Eu peguei dois contratos: Chapters a noite e Archambault de manhã cedo. E isso me ajudou a custear minha vida por lá, inclusive o mestrado. Logo logo tinha juntado 20 mil dólares. Trabalhava também nos finais de semana.

O trio se mudou pra um apartamento também em Outremont e economizavam o máximo. Só não havia economia de cerveja. Tomavamos muitas. Mas carne era só moída. Carne inteira era cara demais. Lembro de Maurício dizendo certa feita: “Rapaz, faz tempo que não mastigo uma carne sem ser moída, estou com medo de não saber mais”.

Wednesday, March 1, 2017

Acabava 2000 – 20

Já estava frio e abrimos o gás, correndo, não sei porque. Cheguei lá em cima da ladeira morto, bufando, e vimos uma loja do KFC. Entramos e pedimos um combo do Super Croque, como se dizia no Québec. Ninguém parava de rir, bêbado é foda. Só fomos ter notícias de Celso no outro dia.

A rotina voltou ao normal, muito trabalho, recebi a grande notícia da aprovação do mestrado na prestigiosa HEC Montréal, chegou o Natal de 2000 e deu aquele banzo. Fui pra casa de Morin e Lu. Cana vai, cana vem, começamos uma discussão, eu e Rosel, sobre direita e esquerda. Ele falando sobre a esquerda, colocou o dedo na minha cara, em riste. Eu avisei: “Amigo, fale o que você quiser, mas não coloque o dedo na minha cara!”. Ele foi falando empolgado, e outra vez colocou o dedo na minha cara, gritando. Avisei de novo, amigo, fale mas não bote o dedo na minha cara. A terceira vez você vai se arrepender. Ele aprendeu ali naquele momento como as coisas funcionavam comigo. Ele colocou o dedo pela terceira vez na minha cara, e antes dele poder ter qualquer reação, eu dei uma mordida tão forte no dedo dele, que ele queria tirar o dedo da minha boca e não conseguia.

O sangue escorria e eu não soltava. Todo mundo entrou em pânico, querendo que eu soltasse, me empurrando, puxando e eu agarrado. Mas o engraçado foi que em vez dele ficar puto, teve um acesso de riso. Pulava de um lado pro outro, dizendo com o sotaque baiano, “Lá ele, o potiguar é pitbull, o potiguar é pitbull, qual o quê?”.

Voltamos a beber novamente quando fizeram um curativo, mas por precaução, pediram pra gente evitar o assunto política. Todos estavam assustados demais. Pegamos um ônibus pra casa, bebemos mais umas cervejas que tínhamos lá e fomos direto pro Chabanel pro trabalho. O frio era tão intenso naquele primeiro dia de 2001 que usávamos máscaras de ski para proteger o rosto, senão queimava. Era terrível, com neve acumulada da noite anterior que batia na canela. Do metrô pro prédio, eu pensei que fosse morrer. Fizemos o trabalho e só assim que voltamos pra casa pra dormir.

Logo no começo de janeiro começaram as aulas do mestrado. Se eu pensava que estava preparado, tive a certeza que não estava. O francês falado academicamente era muito mais puxado do que o falado nas ruas e nas escolas de idioma. Me vi doido. Nesse tempo, eu tinha somente o trabalho de Luiz, do Ministério do Trabalho do Québec, que começava as 5 da tarde e ia até umas 10 da noite, às vezes um pouco mais. Chegava de lá, ia estudar ou fazer algum trabalho (que toda semana tinha um pra cada matéria) até umas 2 ou 3 da madrugada, pra acordar cedo no outro dia pra começar as aulas às 9 da manhã. Mas ainda tinha onibus, metrô e parte à pé, então tinha que sair de casa no máximo as 8 da manhã.

No primeiro trimestre, fiz logo uma disciplina com Alain Joly e como Miguel Anez fazia pós doutorado, aproveitou e fez essa disciplina comigo. Era gestão comparada e estudava formas de gestão em diferentes países. A universidade era linda, desde a arquitetura até a biblioteca, passando pelas salas de aula, auditórios, lanchonete, corredores, escritórios dos professores. Tudo era incrível, um tempo de muita esperança e alegria, apesar de eu achar que aquele clube não era pra mim.

Acabou o trimestre de inverno, como eles chamam e o trimestre de verão era opcional. Como eu tinha que ter tempo pra dormir um pouco e tempo pra juntar o dinheiro da mensalidade, eu decidi voltar somente no trimestre de outono. Trabalhei em Luiz até o meio do ano, quando ele alegou que queriam minha permissão de trabalho e eu não tinha e tive que sair. Aproveitei pra ir no Brasil em agosto de 2001, pois meu pai estava com dinheiro da aposentadoria e resolveu me presentear com uma passagem.