Wednesday, April 19, 2017

Coisas acontecem rápido - 22

Um belo dia, estava eu em casa e Luciano bate na porta. Disse que estava retornando ao Brasil. Eu não entendi nada. Somente depois de um mês é que fiquei sabendo por terceiros que ele estava casando e com Lucianna grávida.

O ano de 2002 entrou e eu estava mais acomodado no mestrado e continuando trabalhando com Miguel e Olga na Soleil Net. Em setembro, minha irmã chegou no Canadá e me mudei pra casa de Morin e Lu, no segundo andar, da rua Ethel, na cidade de Verdun. Comecei a colocá-la em determinados trabalhos com Olga também e assim ela foi ficando capaz de pagar as próprias contas e pra sanidade mental dela e minha, resolveu se mudar e foi morar na casa do lado com Tiago e Flávia. A casa também era de Morin e eles moravam no andar de baixo.

No andar de cima moravam meus amigos Otávio e Mônica, com sua filhinha Maíra, então com 4 anos de idade. Otávio, professor da Univerdade Federal do Pará, fazia ali um curso de doutorado na Universidade UQAM. Foi meu companheiro de cachaça e de música todos os finais de semana. E Maíra era meu xodó, coloquei-a pra andar de bicicleta e carregava-a pra todos os lados. Ela estudava numa escola em francês, perto da Igreja de Verdun.

O trio Marcelo, Augusto e Maurício foram embora pra Flórida, pra onde tinha uma prima de Augusto por lá. 2003 chegou e nada mudou até chegar março e eu, como concluinte do mestrado, tinha direito de fazer estágio em alguma empresa. Foi aí que ocorreu um problema de entendimento.

Eu havia aplicado pra trabalhar numa grande empresa de consultoria chamada Mckinsey. Mas também tinha aplicado pra trabalhar em mais de duzentas empresas, inclusive uma gigante do setor de logística de medicamentos chamada McKesson. Só que a primeira era pra uma posiçao de consultoria, a segunda era pra uma posição mais baixa.

Recebi um telefonema da empresa e o cara falou McKesson, mas eu entendi Mckinsey. Pensei porra, fui chamado pra McKinsey, esse mestrado é forte mesmo. Ele me deu o endereço onde eu deveria me apresentar. Comprei roupa nova, sapato, e fui pro endereço fornecido.

Chegando lá, vi um grande galpão. Uma senhora na recepção perguntou meu nome e já tinha um crachá. Pensei, porra, que legal. Mandou eu seguir por um corredor, onde fui parado por um sujeito com um jaleco. Onde estão suas botas de segurança?, perguntou o sujeito. Que botas?, perguntei eu. Ele disse: “Como você quer trabalhar numa fábrica sem botas de segurança?”. Fábrica? Pensei eu. Do que esse cara tá falando?

Ele então me entregou um negócio duro pra calçar sobre os sapatos e pediu pra eu seguí-lo, dizendo, ríspido, compre botas pra trazer amanhã. Foi quando eu fui andando e vendo o nome nas paredes Mckesson e não McKinsey. E eu todo arrumado. Mas não desisti, fui até o fim. Encontrei outros estudantes da mesma universidade todos sentados numa sala de reunião. Passamos por um briefing sobre a empresa e me levaram pro meu posto.

O trabalho consistia em pegar um carrinho cheio de remédios e dali escanear cada item. Na scanner de mão, dizia o que eu deveria fazer com ele. Se fosse vencido, colocava em uma prateleira tal. Se fosse violado, colocaria em outra. E por ai ía. Uma dificuldade tão grande que até um macaco bem treinado consegueria realizar tal tarefa. O meu chefe, não tinha um dente sequer na boca. Fiquei impressionado como um sujeito daquele, num país daqueles, não tinha dente.