Ele
perguntou se eu aceitava uma sugestão. Eu acenei com a mão que
fosse em frente e dissesse o que estava pensando. Ele então disse:
“Por mais que eu queira um exército dentro da academia, eu não
acho que você possua o perfil de um teórico, um acadêmico, um
pesquisador, mestre ou doutor. Você é muito mais do que isso. Você
é um empreendedor, um homem prático, de resultados, de correr atrás
e vai se frustrar muito dentro desse nosso mundo, cheio de fantasias,
teorias e ilusões. Siga sua vida na iniciativa privada. Nós
precisamos de gente como você pra poder fazer a economia girar
enquanto ficamos aqui dentro em cima dos livros e teorias. Vá, meu
rapaz, e depois me conte se eu estava certo ou errado!!”.
Eu estava
sentado e fui descendo na cadeira, escorregando a bunda, quase caindo
da cadeira, enquanto ele falava. Aquilo era o peso que eu estava
tirando das costas. Mil e quinhentos quilos saíram dos meus ombros e
ele foi sorrindo enquanto eu comecei a mudar minha expressão facial.
Eu sorri também, inicialmente e logo depois comecei a gargalhar!!
Dei um abraço no velho mestre e parti dali com a plena certeza que o
mundo acadêmico não era pra mim.
Sempre
busquei, até hoje, fazer as coisas que me despertavam paixão. Nunca
quis fazer o que os outros estavam fazendo. Não pra querer ser
diferente, pois querer ser diferente por apenas ser diferente já é
uma coisa igual a muitos. Eu queria fazer o que fazia meu coração
palpitar. Por isso gosto tanto de música. É a forma de arte que
mais me emociona. Quadros, esculturas, arte moderna, isso não me diz
nada. E não me vejo como um ignorante por pensar assim. Ignorante é
o sujeito admirar algo à força, pra demonstrar uma falsa erudição.
Admira o que tu quiser, malandro, o que te faz chorar. Me chame pra
ir a um show, nunca a um museu. Literatura e cinema vêm em seguida,
após a música.
Entrar no
mundo acadêmico nunca me despertou paixão. Entrei por necessidade.
Iniciei minha vida como nano empreendedor. Tive uma fabriqueta de
gelo, um jornalzinho teen e uma lanchonete em uma loja de
departamentos do Natal Shopping, na primeira metade da década de 90.
Todos esses em sociedade, e mesmo não tendo o sucesso esperado, não
me fez desacreditar em parcerias. Pelo contrário. Me fez aprender
que precisamos ter sócios que comunguem das mesmas crenças, que
possuam os mesmos objetivos e principalmente, que tenham o mesmo
bolso que você.
Em meados de
1997, decidi fechar o último dos empreendimentos, a lanchonete e me
dedicar à universidade, para pagar uma quantidade maior de matérias
simultaneamente e terminar logo aquilo. Havia cansado da vida de
empreendedor e queria um emprego. Mas qual? Não sabia, mas sabia que
arrumar um emprego formado era mais fácil. Isso era óbvio. Comecei
então a avançar no curso, pagando o máximo de matérias que podia
(10 disciplinas, sendo 5 de manhã e 5 de noite, o que formava duas
turmas de cachaça). Meu pai apoiou a ideia, como apoiava quase tudo
que eu propunha e ele podia financeiramente, e lá me fui pra cumprir
essa parte da minha vida.
A partir do
segundo semestre de 1997 ao final de 1999, eu comi os livros com uma
voracidade tão grande que se os livros fossem comida, hoje eu teria
500 quilos. Não teve nenhuma matéria dessas que passei com média
baixa, todas com média entre 8,5 e 10. Realmente aprendendo tudo
aquilo que eu achava inútil, mas que o diploma exigia. Fui um
mentiroso eficaz, pois tinha que responder aquilo nas provas e
trabalhos. Tinha um amigo que dizia que o sucesso vinha muito mais da
disciplina do que da genialidade. Nunca esqueci disso. Quer
disciplina maior do que se tornar especialista naquilo que você não
acredita? Mas cumpri meu papel caninamente, sempre pensando como
melhorar aquele status quo. Nesse período que tive a ideia de
me tornar um professor, mais para ter uma fonte de renda certa do que
por vocação. Achei cômoda a posição deles, falando e a gente
engolindo. Taí um negócio bom? Pensei.
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