Wednesday, August 17, 2016

Adeus, academia!! - 2

Ele perguntou se eu aceitava uma sugestão. Eu acenei com a mão que fosse em frente e dissesse o que estava pensando. Ele então disse: “Por mais que eu queira um exército dentro da academia, eu não acho que você possua o perfil de um teórico, um acadêmico, um pesquisador, mestre ou doutor. Você é muito mais do que isso. Você é um empreendedor, um homem prático, de resultados, de correr atrás e vai se frustrar muito dentro desse nosso mundo, cheio de fantasias, teorias e ilusões. Siga sua vida na iniciativa privada. Nós precisamos de gente como você pra poder fazer a economia girar enquanto ficamos aqui dentro em cima dos livros e teorias. Vá, meu rapaz, e depois me conte se eu estava certo ou errado!!”.

Eu estava sentado e fui descendo na cadeira, escorregando a bunda, quase caindo da cadeira, enquanto ele falava. Aquilo era o peso que eu estava tirando das costas. Mil e quinhentos quilos saíram dos meus ombros e ele foi sorrindo enquanto eu comecei a mudar minha expressão facial. Eu sorri também, inicialmente e logo depois comecei a gargalhar!! Dei um abraço no velho mestre e parti dali com a plena certeza que o mundo acadêmico não era pra mim.

Sempre busquei, até hoje, fazer as coisas que me despertavam paixão. Nunca quis fazer o que os outros estavam fazendo. Não pra querer ser diferente, pois querer ser diferente por apenas ser diferente já é uma coisa igual a muitos. Eu queria fazer o que fazia meu coração palpitar. Por isso gosto tanto de música. É a forma de arte que mais me emociona. Quadros, esculturas, arte moderna, isso não me diz nada. E não me vejo como um ignorante por pensar assim. Ignorante é o sujeito admirar algo à força, pra demonstrar uma falsa erudição. Admira o que tu quiser, malandro, o que te faz chorar. Me chame pra ir a um show, nunca a um museu. Literatura e cinema vêm em seguida, após a música.

Entrar no mundo acadêmico nunca me despertou paixão. Entrei por necessidade. Iniciei minha vida como nano empreendedor. Tive uma fabriqueta de gelo, um jornalzinho teen e uma lanchonete em uma loja de departamentos do Natal Shopping, na primeira metade da década de 90. Todos esses em sociedade, e mesmo não tendo o sucesso esperado, não me fez desacreditar em parcerias. Pelo contrário. Me fez aprender que precisamos ter sócios que comunguem das mesmas crenças, que possuam os mesmos objetivos e principalmente, que tenham o mesmo bolso que você.

Em meados de 1997, decidi fechar o último dos empreendimentos, a lanchonete e me dedicar à universidade, para pagar uma quantidade maior de matérias simultaneamente e terminar logo aquilo. Havia cansado da vida de empreendedor e queria um emprego. Mas qual? Não sabia, mas sabia que arrumar um emprego formado era mais fácil. Isso era óbvio. Comecei então a avançar no curso, pagando o máximo de matérias que podia (10 disciplinas, sendo 5 de manhã e 5 de noite, o que formava duas turmas de cachaça). Meu pai apoiou a ideia, como apoiava quase tudo que eu propunha e ele podia financeiramente, e lá me fui pra cumprir essa parte da minha vida.

A partir do segundo semestre de 1997 ao final de 1999, eu comi os livros com uma voracidade tão grande que se os livros fossem comida, hoje eu teria 500 quilos. Não teve nenhuma matéria dessas que passei com média baixa, todas com média entre 8,5 e 10. Realmente aprendendo tudo aquilo que eu achava inútil, mas que o diploma exigia. Fui um mentiroso eficaz, pois tinha que responder aquilo nas provas e trabalhos. Tinha um amigo que dizia que o sucesso vinha muito mais da disciplina do que da genialidade. Nunca esqueci disso. Quer disciplina maior do que se tornar especialista naquilo que você não acredita? Mas cumpri meu papel caninamente, sempre pensando como melhorar aquele status quo. Nesse período que tive a ideia de me tornar um professor, mais para ter uma fonte de renda certa do que por vocação. Achei cômoda a posição deles, falando e a gente engolindo. Taí um negócio bom? Pensei.

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