Na busca de
uma ideia pra esse trabalho a ser apresentado no Congresso, fui
conversar com vários professores. Um deles era um americano que
lecionava na Universidade, chamado Wayne Thomas Enders, que acabou
sendo meu orientador da monografia pois Miguel precisou se ausentar
do Brasil pra fazer seu estágio pós-doutoral.
Fui
encontrar com ele, que como todo americano, era objetivo e me sugeriu
um tema de trabalho interessantíssimo, baseado em uma ideia de um
amigo dele chamado Peter Dakowski. A ideia existia, eu teria que me
aprofundar e estruturar aquilo como trabalho acadêmico. Fui atrás,
fiz os levantamentos que precisava, embora o referencial teórico era
de difícil equalização.
A ideia
consistia no seguinte. Como Natal era o ponto mais próximo da Europa
e mais próxima dos Estados Unidos do que os portos do sudeste
brasileiro, Natal seria o pólo receptador dos carros importados. A
ideia era aproveitar as carretas de carros que sairiam de Natal com
os carros importados para abastecer o sudeste e usar essas mesmas
carretas para trazer para o nordeste os carros fabricados no sudeste.
Na época, as carretas que vinham com os carros fabricados no
nordeste voltavam pra São Paulo vazias, onerando bastante o custo
desse transporte.
Evidentemente,
sabíamos da dificuldade política disso acontecer, mas para um
trabalho acadêmico, me pareceu perfeito, até porque tinha muitos
aspectos práticos e não somente os devaneios teóricos que tanto me
davam náusea.
A data do
congresso chegou e eu não tinha nada organizado ainda teoricamente,
tudo que tinha era a ideia em uma folha de papel. Tudo bem, pois
teria apenas que apresentar o trabalho oralmente. A apresentação
tinha que ser simples, para uma banca de professores e alunos na
plateia. Acredito que não gastei nem 15 minutos explicando a ideia,
em compensação, passei uns 45 minutos respondendo perguntas. Uma
pergunta gerava outra e por sorte, todas as perguntas que foram
feitas, eu tinha as respostas.
Saí de lá
arrasado. Fui massacrado, pensei. Fui pra cantina e descansei, após
um fuzilamento de tantas perguntas. Bem, vida que seguiu. Passaram-se
algumas semanas, e continuei indo pra base de pesquisas de Miguel
todos os dias. Um belo dia, chega Miguel com aquele sorriso dele,
segurando um negócio em um das mãos, com o sotaque boliviano dele,
dizendo: “Ganhamos, rapaz, ganhamos!!!”.
Eu,
genuinamente, não tinha a menor ideia sobre o que ele estava falando
e perguntei, “ganhamos o que, homem de Deus?”. Ele
finalmente explicou, após alguns momentos de suspense. Havia sido o
prêmio de melhor apresentação oral do congresso na minha
categoria, que eu havia ganho, o que me dava um troféu, que ele
segurava em sua mão, balançando, feliz, e uma passagem para ir pra
Brasília, defender o trabalho completo.
Minha
primeira pergunta foi: “Ninguém nunca ganhou esse troféu aqui
na sua base, hein? Pois agora saiba que tem um troféu aqui,
carajo!!!”. Acredito que esse
prêmio foi o que faltava pra cimentar de vez minha ida pro mestrado.
Eu mostrei ali, mesmo sem saber, que estava mesmo disposto a seguir
aquele caminho. Penso que ganhei o respeito de Miguel de vez naquele
momento.
O
ano era 1999 e nesse ano, como prova total do meu foco, decidi não
participar do carnaval fora de época da minha cidade. Havia
participado de todos, desde sua criação. E nunca mais participei de
nenhum depois disso. Aí sim, meu pai acreditou que eu realmente
estava falando sério.
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