Wednesday, January 11, 2017

Domingo de sol – 15

Um episódio dessas duas semanas finais marcou muito a minha trajetória em Montréal. Era um domingo e tínhamos planejado de ir conhecer o Les Bobards, um bar que tinha música brasileira tocando aos domingos, quase sempre com o brasileiro Paulinho Ramos na voz e violão. Ficava situado na famosa avenida St-Laurent.

Antes de irmos, Natan nos intimou a participar de uma festa baiana que eles consideram e prestigiam muito, o chamado Caruru. Natan estaria dando esse caruru pra agradecer a alguma graça obtida, não sei do que se tratava, mas disse que não poderíamos faltar e como tínhamos um senso de gratidão com ele, fomos nessa missão, apesar de eu saber que iria ficar o dia inteiro com fome.

Como Natan tinha medo de Júlia, pediu a casa de um amigo emprestada para realizar tal evento. O dono da casa era um sujeito chamado Pedro, que tinha um apartamento ali no Platêau Mount-Royal, mas que não iria estar em casa, por motivos de trabalho.

Chegando na festa, eu e Zumel percebemos logo que o ambiente não era hetero. Uma viadagem enorme e chega logo uma bicha descarada e gasguita chamada Billy. Esse Billy era brasileiro mas parece que ra filho de estrangeiro. Eu ficava sério olhando pros gestos tresloucados e gritinhos do tal Billy, mas Zumel ficava olhando pra cara do sujeito e gargalhando. Outra daquelas manias dele sem noção.

Porém, como tudo na vida é um quebra-cabeças que vai se encaixando, mais tarde, já pro fim da tarde, chega na festa um carioca e um peruano. Eles carregavam duas caixas de 24 cervejas Budweiser e eu pensei, taí dois caras gente boa.

Não tinham aparência de viados, e começamos a conversar. Ficamos eu, Zumel, e eles dois numa mesa, já cada um com uma Budweiser na mão. O carioca era Celso Mirres e o peruano era Lúcio. Celso perguntou: “Nada contra, mas vocês dois são viados?”. Eu respondi: “Viado é o caralho, porra!”. Foi um alívio fantástico por parte de nós quatro.

Então avisamos que íamos ao Les Bobards e Lúcio nos ofereceu carona, numa Van. Chegamos lá, praticamente só brasileiros na festa e era incrível, pois nauela época não existiam muitos brasileiros por lá. Tomamos todas, jogamos sinuca, foi uma farra ao tipo que eu fazia em Natal. Nessaa noite, através do viado Billy, que foi pra lá a pé, Zumel conheceu Danielle, que seria sua mulher por uns tempos e que depois se mudou pra Natal e virou corretora de imóveis por lá.

O engraçado foi o motivo que ela deu pra deixar o Canadá e ir morar no Brasil. Certa vez ela foi visitar Natal e lá, a manicure foi fazer a unha dela na residência onde ela estava. Ela achou aquilo tão incrível, que resolveu se mudar pra Natal, para que tivesse esse e outros pequenos luxos que não existiam no Canadá.

Na semana seguinte, fui tomar uma cerveja com Celso na casa dele e toquei a introdução de “La Bamba” em uma guitarra que ele tinha em casa. Ele gostou tanto que pediu para que eu repetisse umas 10 vezes. Lúcio novamente apareceu por lá e ficamos tomando várias.

E nesse interim, Celso me convidou a passar um tempo na sua casa até que me organizasse quando voltasse à Montreal em Setembro. E ainda me garantiu um emprego na “fábrica”. Mas se eu tivesse me recusado à ir na festa do Natan, nada disso teria acontecido e minha volta teria sido bem mais difícil. Incrível como tudo tem um propósito.

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