Friday, March 6, 2015

Um pássaro no fio



“Like a bird on the wire, like a drunk in a midnight choir, I have tried in my way to be free”.
Leonard Cohen

Acredito ser um sentimento comum à quase todos os seres humanos, lembrar com saudade de algo que não existe mais. Falo quase todos, pois tem cada sujeito por aí que benza Deus. Com o temperamento de um Diabo da Tasmania quando mais jovem, antes mesmo do meu velho pai terminar de falar, eu já estava discordando, de pronto, com a mão direita levantada, palma virada pra ele, como quem diz: “Pode parar, não concordo!”

Hoje, muitas primaveras depois, sei que prestei atenção em cada ensinamento e pensamento exposto em noitadas regadas à cerveja, boa música, com as dunas de Morro Branco como moldura desleixada, e tenho plena consciência de que fui um privilegiado. Mas na hora não via assim, apesar de todos os amigos repetirem e repetirem à exaustão a verdade que estava pulando diante de mim.

Mas, sentir saudade de alguém querido e querer escutar o que ele teria a dizer hoje em dia é fácil. Facílimo. Difícil mesmo é aproveitar os momentos quando eles estão acontecendo. É uma arte que poucos conseguem. O sujeito casa, todos aproveitam a festa, ele está preocupado se tudo está dando certo, pensando na conta a pagar ou o no que já pagou, enquanto todos bebem e comem. Mas no futuro ele irá olhar paras as fotos e pensar que se divertiu bastante. E exemplos como esse aparecem aos montes. Viagens, trabalho, músicas, atores, tudo é melhor no passado.  

No último domingo saí pra almoçar com minha mae, minha Preta e os pais dela, pois na segunda-feira iria viajar pro Canadá. Pensava em ir ao hotel que estava hospedado para descansar um pouco, pois à noite iria pro cinema com a Preta assistir à American Sniper. Ao deixar minha mãe em casa, resolvemos subir e chegando lá, a minha irmã convida pra assistir ao filme The theory of everything. Sem nem saber da existência desse filme, comecei a assistir e fiquei fascinado.

 Uma pena que tivemos que sair antes do fim, senao perderíamos o nosso cinema, pensei. Mas eis que no dia seguinte, The Theory of everything estava disponível no avião e terminei de assistir. O propósito principal dos estudos de Hawking é formar uma teoria, simples e elegante, como ele frisou, que explique e conecte em uma só estrutura todos os fenômenos físicos em um único tratamento teórico e matemático. Pretende somente unir a mecânica quântica à relatividade geral. E haja elegância.  

Pensando nisso, tenho um novo propósito existencial. Pretendo descobrir como fazer para gostar das coisas de hoje e fazer também com que os que estão ao me redor possam vivenciar isso. Espero não descobrir isso quando estiver caquético ou doente em cima de uma cama. Isso, acredito, que envolve deixar as coisas pequenas sendo sempre pequenas. Lupa nesses casos são nocivas. Mesmo que seja pra chorar, nunca é melhor deixar pra depois. 

Fabiano Holanda, Oakville, 6 de março de 2015

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