Foi o desgraçado fechar
a boca e eu agarrei nas minhas duas malas e atravessei a rua
correndo, pra outra calçada, onde tinha um táxi parado. Todos os
meus pertences estavam ali e eu segurando com tanta força aquela
mala, só me lembrando do velho agarrado ao assento do avião.
Arrumamos as malas como deu e saímos dali voando, tentando responder
ao motorista que não éramos doidos por estar naquele local com
quatro malas, dando sopa. Pagamos a fortuna do taxista, que por sinal
não estava no orçamento de Jajá, e entramos no hotel já com o
prejuízo absorvido.
Dormimos bem e no dia
seguinte, saímos em disparada pro Consulado Canadense, que na época
se situava na Avenida Paulista, pouco depois do MASP. Mas como chegar
naquela porra? Lá se foi o falecimento de mais algumas notas de Real
pra um novo taxista. Fui na frente e ao dizer qual era a nossa
missão, o taxista entregou uma foto com um santo e uma prece atrás
pra ser lida toda as vezes em que estivéssemos em dificuldades. Era
o Santo Expedito, que sempre ajudava-o nas causas mais difíceis.
Agradeci ao motorista mas
fiquei encucado. Se aquele galado daquele taxista estava achando uma
causa difícil nós obtermos o visto canadense, o que diria o outro
corno que iria carimbar o passaporte? Se o motorista era um
brasileiro como nós, um nordestino honrado (?), estava pondo em
prova o final feliz dessa história, o canadense então iria nos
trucidar. Não passei essa preocupação pra Zumel, que como um
abestalhado estava perguntando o nome dos lugares por onde passávamos
ao taxista. Eu queria lá saber nome de porra nenhuma. Minha
preocupação era poder embarcar.
Marcamos de encontrar com
o despachante, que trabalhava pra STB, a agência por onde estávamos
viajando, com passagem com preço de estudante, do nosso amigo
Maninho (700 dólares na época). Chegamos no Consulado Canadense, a
praga ainda estava fechada, talvez chegamos antes, não sei. Ficamos
perambulando pra cima e pra baixo na Avenida Paulista e em alguma
galerias pra passar o tempo. Gastar alguma coisa, nem pensar. Então
encontramos o sujeito, um negão de quase dois metros de altura.
Sorridente e confiante. O Consulado abriu e tínhamos que bater foto
pra poder adentrar naquele palácio. Nunca tinha visto um negócio
daqueles. E o crachá já saia na hora.
Entramos esmagados pela
moral dos canadenses. Mandaram que a gente sentasse num lugar que
apontaram e ficamos ali esperando. E eu não via o negão conhecer
ninguém ali. Daqui a pouco chamam o nome da gente. O negão faz
sinal pra que esperássemos. “Porra é essa, Zumel?”, eu quis
saber. A gente sai lá de Natal pra cá, pra na hora que chamam a
gente, esse cara vai lá e nem vão escutar o que a gente tem pra
dizer? Daqui a pouco caminha o negão, com os passaportes na mão e
os vistos concedidos. Todo risonho.
Eu só pensava nas
diárias do hotel que tivemos que pagar. Tudo em vão, pois o negão
nem precisou da gente. Pensava no que iria dizer pro meu pai. Que eu
iria ter que inventar uma entrevista fictícia e interrogatória, que
eu só me dei bem por causa da minha retórica refinada. Foi quando,
no meio dos meu devaneios, escutei um grito: “Bora, galado, quer
que eles mudem de idéia, é?”
Era Zumel com medo. Fomos
embora e falei pra ele: “Sabe de uma? Vamos tomar uma pra
comemorar essa porra. Nem quero saber quanto vamos gastar. Afinal, o
que é um peido pra quem está já todo cagado?” Lá se foi
outro táxi. Agora com visto canadense, eu já me sentia rico.
Associação mais estúpida não poderia existir, mas assim foi.
Porém, não se sentindo tão rico assim, pois o visto era canadense
e não americano, mandamos o motorista tocar pro hotel, uma vez que
acharíamos um bar ali perto pra não ter que morrer em outro táxi
quando acabasse a bebedeira.
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