Wednesday, November 9, 2016

Desespero – 11

Chegamos de volta ao hotel e arrumando minha mala, encontrei um papel que eu havia imprimido com os telefones de alguns brasileiros que moravam em Montréal, que encontrei numa busca simples no pré-histórico site “cade.com.br”, colocando as palavras chaves: “brasileiros em Montreal”.

Lá tinha os números de telefone de cinco pessoas. Como também deleguei a tarefa de ligar para essa lista para Zumel, o canalha ainda conseguiu fazer uma merda. Tinha o telefone de uma senhora chamada Júlia, e dizia ao lado que ela era promotora de eventos e o telefone de outra senhora chamada Gilda, que dizia que ela era jornalista. Zumel pegou o telefone de Júlia, pensando ser o de Gilda. E ligou e perguntou por Gilda, em português mesmo. Júlia disse que o nome dela era Júlia e não Gilda. Ai Zumel atacou com uma de suas manias imbecis:

Júlia? Ah, eu pensei que fosse Gilda. Bem Júlia, tem nada não, serve tu mesmo. Como só tem tu, serve tu mesmo, hehehe…”. Aí ato continuo, dá uma paradinha, coloca a mão tapando o telefone, olha pra mim e dá uma risadinha de rapariga. Como eu não ri, ele retornou ao papo. “O negócio é o seguinte. Somos estudantes, lisos, estamos em um hotel e o dinheiro já tá acabando. Será que tu não conhece nenhuma residência estudantil onde a gente possa se hospedar por três meses?”

Já fuzilou a mulher com esse problemão, logo no primeiro dia do ano de 2000. Ela, muito educada, disse que conhecia um cara de Salvador que poderia nos ajudar, mas que naqueles primeiros dias do ano, nada funcionava em Montréal. Puta merda, nem nisso havíamos pensado. Só pensamos em pegar o voo mais barato do bug do milênio e mais nada.

Mas o nome do cara que Júlia conhecia era Maurício e estava buscando um mestrado em Direito Ambiental, na universidade McGill. Ela nos deu o telefone desse sujeito. Zumel ligou e quem atendeu foi um cara chamado Natanael Bonfim, professor da Universidade Estadual da Bahia, que estava cursando um doutorado na universidade UQAM.

Só sei que quando Zumel desligou, foi logo dizendo que havíamos sido convidados pra jantar na casa desse Natanael. Ora, de graça eu iria até na de Papai Noel, quem dirá Natanael. As coisas pareciam estar clareando. Natanael era roommate de Maurício, e ainda tinha uma moça que por lá habitava, também baiana, chamada Júlia, estudante de algum mestrado ai desses da vida.

Ficamos conhecendo o figura e este logo ligou pra outra baiana chamada Ieda Muniz, para que esta pudesse nos dar uma luz. Ieda morava no prédio de propriedade de um senhor quebecois chamado André Boulais, situado no Boulevard Décarie, em NDG, quase na esquina com a Sherbrooke. Para nossa sorte, tinha uma japonesa que morava vizinho ao apartamento de Ieda, que iria viajar por 10 dias e estava disposta a nos alugar o apartamento dela por esse período pelo valor de 120 dólares.

Ora, o preço dos dez dias era o mesmo preço de UM dia do hotel. Foi ela fechar a boca e já estávamos lá com toda nossa parafernália. Foi bom pois dessa forma teríamos tempo pra procurar outro apartamento, pois todos os apartamentos de André Boulais estavam ocupados. Foi uma felicidade adentrar naquele ambiente, sabendo que estávamos pagando 12 dólares por dia, 6 pra cada um.

Seguindo indicação de Ieda, fomos logo a um depanneur que tinha lá perto, de uma chinesa, e fizemos umas comprinhas básicas pra sobrevivência. Evidentemente, deixando claro o que era meu e o que era de Zumel, pois o homem comia até pedra e a comida que o próprio escolhia nem cachorro chegava perto.

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