Chegamos de volta ao
hotel e arrumando minha mala, encontrei um papel que eu havia
imprimido com os telefones de alguns brasileiros que moravam em
Montréal, que encontrei numa busca simples no pré-histórico site
“cade.com.br”, colocando as palavras chaves: “brasileiros em
Montreal”.
Lá tinha os números de
telefone de cinco pessoas. Como também deleguei a tarefa de ligar para essa lista para
Zumel, o canalha ainda conseguiu fazer uma merda. Tinha o telefone de
uma senhora chamada Júlia, e dizia ao lado que ela era promotora de
eventos e o telefone de outra senhora chamada Gilda, que dizia que
ela era jornalista. Zumel pegou o telefone de Júlia, pensando ser o
de Gilda. E ligou e perguntou por Gilda, em português mesmo. Júlia
disse que o nome dela era Júlia e não Gilda. Ai Zumel atacou com
uma de suas manias imbecis:
“Júlia?
Ah, eu pensei que fosse Gilda. Bem Júlia, tem nada não, serve tu
mesmo. Como só tem tu, serve tu mesmo, hehehe…”.
Aí ato
continuo, dá uma paradinha, coloca a mão tapando o telefone, olha
pra mim e dá uma risadinha de rapariga. Como eu não ri, ele
retornou ao papo. “O
negócio é o seguinte. Somos estudantes, lisos, estamos em um hotel
e o dinheiro já tá acabando. Será que tu não conhece nenhuma
residência estudantil onde a gente possa se hospedar por três
meses?”
Já fuzilou a mulher com
esse problemão, logo no primeiro dia do ano de 2000. Ela, muito
educada, disse que conhecia um cara de Salvador que poderia nos
ajudar, mas que naqueles primeiros dias do ano, nada funcionava em
Montréal. Puta merda, nem nisso havíamos pensado. Só pensamos em
pegar o voo mais barato do bug do milênio e mais nada.
Mas o nome do cara que
Júlia conhecia era Maurício e estava buscando um mestrado em
Direito Ambiental, na universidade McGill. Ela nos deu o telefone
desse sujeito. Zumel ligou e quem atendeu foi um cara chamado
Natanael Bonfim, professor da Universidade Estadual da Bahia, que
estava cursando um doutorado na universidade UQAM.
Só
sei que quando Zumel desligou, foi logo dizendo que havíamos sido
convidados pra jantar na casa desse Natanael. Ora, de graça eu iria
até na de Papai Noel, quem dirá Natanael. As coisas pareciam estar
clareando. Natanael era roommate de
Maurício, e ainda tinha uma moça que por lá habitava, também
baiana, chamada Júlia, estudante de algum mestrado ai desses da
vida.
Ficamos conhecendo o
figura e este logo ligou pra outra baiana chamada Ieda Muniz, para
que esta pudesse nos dar uma luz. Ieda morava no prédio de propriedade
de um senhor quebecois chamado André Boulais, situado no Boulevard
Décarie, em NDG, quase na esquina com a Sherbrooke. Para nossa
sorte, tinha uma japonesa que morava vizinho ao apartamento de Ieda,
que iria viajar por 10 dias e estava disposta a nos alugar o
apartamento dela por esse período pelo valor de 120 dólares.
Ora, o preço dos dez
dias era o mesmo preço de UM dia do hotel. Foi ela fechar a boca e
já estávamos lá com toda nossa parafernália. Foi bom pois dessa
forma teríamos tempo pra procurar outro apartamento, pois todos os
apartamentos de André Boulais estavam ocupados. Foi uma felicidade
adentrar naquele ambiente, sabendo que estávamos pagando 12 dólares
por dia, 6 pra cada um.
Seguindo indicação de
Ieda, fomos logo a um depanneur que tinha lá perto, de uma chinesa,
e fizemos umas comprinhas básicas pra sobrevivência. Evidentemente,
deixando claro o que era meu e o que era de Zumel, pois o homem comia
até pedra e a comida que o próprio escolhia nem cachorro chegava
perto.
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