Já íamos nos
despedindo, agradecendo ao Claude pela grande força, e também pela
gratuidade do esforço, eis que num momento cinematográfico, Zumel
se vira pra ele e diz:
- “E os nossos 100 que já pagamos, ele vai nos devolver né?”
Rapaz, o Claude nem
respondeu, fechou a porta e deu um bom dia. Ligamos pra Natan e o
intimamos de ir também, pra fazer número, uma vez que o filipino
andava com mais 4, seriam 5 contra 3. Natan concordou, mas foi se
tremendo todo. Eu combinei com Zumel, se der merda, a gente joga
alguma coisa em cima desses putos e corre o máximo que puder até a
casa de Natan.
Natan berrou logo, “Lá
em casa não, lá em casa não, vão pro Metrô, se Júlia ficar
sabendo, ela me mataaaaaaa…”. Canalha.
Mas uma vez chegando lá,
o filipino tomou a chave das minhas mãos, e já foi mostrar pra
outro inquilino. Nem falou nada. Ou seja, era tudo jogo de cena. O
tal do se colar, colou. Bandidão.
Aparecida foi de grande
valia, assim como Natan e Ieda nesse nosso começo em Montréal. Foi
através de Aparecida que conhecemos o Padre Pierre Labine. Ele
também era aluno de português de Aparecida. E por coincidência,
era o padre do Oratório St-Joseph, aquele que tinha me maravilhado
na chegada em Montréal.
O padre Pierre tinha uma
casa em que alugava quartos por 300 dólares por mês, incluindo ai
alimentação de boa qualidade. Pela maior parte dos 3 meses que
ficamos por lá, só moravam eu, Zumel, o padre Pierre e o irmão
Michel. E em quartos individuais. No final, foi que chegou uns
africanos, mas aí já dominávamos o ambiente.
Isso foi uma bênção em
todos os sentidos. O padre nos ajudou e muito. Inclusive nos levou
pra passear em Ottawa e Cornwall e nos hospedamos numa fazenda da
Igreja num feriado prolongado. Ali eu conheci de maneira direta o
inverno canadense.
Saindo da casa, um frio
seco e cortante, neve pra todos os lados, afinal lá não se passava
o Snow Plower. Dentro da casa, uma lareira queimando a madeira
da região, gerando um cheiro característico que onde eu estiver, eu
ainda lembrarei daquele cheiro, mesmo com 100 anos de idade.
Abrimos um bom vinho,
sentamos próximo a janela de vidro grande, apreciando a paisagem
branca, aquecidos pela lareira natural. Se tivesse uma paz maior do
que aquela, eu nunca tinha vivido. Parecia que ali as almas
descansavam de verdade. Além de tudo isso, teve a experiencia de
viajar pela primeira vez em rodovias cobertas de neve. Também uma
outra experiencia fantástica. O padre gostava somente de música
clássica. Deslizávamos na branca areia, ao som de Vivaldi,
Bethoven, Mozart, Bach.
O padre Pierre também
nos dava carona pra Université de Montréal todas as manhãs, ali na
Avenida Decelles, uma vez que ele ia pro Oratório de toda forma. A
casa onde morávamos era situada ali naquele região entre as
estacões de metrô De Castelnau e Jean-Talon. Era na rua Faillon,
esquina com a St-Denis. A noite tinha um carteado, eu e Zuma contra
padre Pierre e Irmão Michel. No meio de uma tossida, Zuma dizia
passa um 8 de copas. Os adversários iam à loucura, as vezes
abandonavam o jogo. Não entendiam, mas achavam que estávamos
combinando. E estávamos.
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