Wednesday, November 16, 2016

Encrenca – 12

Foi então que, perto da casa de Natan (esse era o apelido dele), apareceu um apartamento vago, 4 et demi, como se diz em Montréal, e lá fomos ver. O dono era um mafioso filipino, que só andava com uns 4 seguranças. Depois de vermos o apartamento, e constatarmos que o bicho era todo fudido, resolvemos alugar aquela joça. Demos 100 dólares de depósito e Natan foi o fiador do aluguel. Resolvemos aceitar por pura falta de opção. A japonesa iria voltar pro apartamento da Décarie e não tínhamos como pagar hotel. Mas...

Saindo de lá, compramos uma cerveja e fomos beber na casa de Natan. Não sei porque, me deu um negócio, uns arrepios premonitórios e resolvi não ir mais pra aquele lugar. Estava com um mal presságio. Como sempre confiei nos meus instintos (ou quando não confiei me dei mal), me levantei do sofá e disse em alto e bom som, de supetão: “Não vou morar ali naquele apartamento”.

O que? Como?”, foram os gritos de Zuma e Natan. “Não pode!”, berrou Natan. “Eu fui o fiador, ele vai vir atrás de mim, vai ficar ligando, oh meu Deus, porque você fez isso comigo?”. Como se tivesse em transe, confirmei, naquela merda daquele apartamento eu não entraria nem a pau.

Eu estar falando aquilo era uma coisa tão surpreendente pra mim quanto era para os dois. Não sei de onde, não sei porque, mas eu estava decidido a não descansar meus ossos naquele ambiente.

Liguei logo pro velho Jajá a cobrar via Embratel e expliquei o meu problema. Ele sem entender nada, disse que eu fizesse o que era melhor. E ficou uns dólares mais leve somente com essa frase. Zumel só fazia rir do desespero do baiano, nem ligava pro resultado da história, acanalhado que sempre foi.

Então o baiano Natan, em meio a pinotes histéricos, ligou pra uma professora de português da UQAM chamada Aparecida, uma mineira que morava em Montréal desde a sua fundação.

Ele queria conselhos. Isso era Natan ao telefone, ipsis letteris:

- “Sim mulher… Eles assinaram, mulher... Foi... E eu fui o fiador... Sim... Era um quatre et demi… Muito bonzinho… Foi... Aí o menorzinho (nota: ele estava se referindo a mim) implicou que não quer ir mais, mulher... Não sei porque ele assinou... Mas agora não quer ir mais... Ai meu Deussssss! Júlia vai me matar quando ficar sabendo disso…”

Nota do autor: não confundir essa Júlia do parágrafo acima, que é estudante de mestrado com a Júlia da outra página, que era promotora de eventos. São duas pessoas distintas.

Mas voltando ao papo de Natan ao telefone. Cara, pensei em mandar aquele bicho se lascar. Mas ao mesmo tempo, ele era o nosso único contato com a realidade. Aparecida então lembrou que tinha um aluno dela do curso de português que era defensor público e disse que fossemos lá ter com o indivíduo na manhã seguinte que ele iria nos ajudar. Em menos de uma semana no Canadá já estávamos com problemas jurídicos.

O nome do defensor público era Claude e no dia seguinte ele nos recebeu. Contamos tudo a ele e ele pediu o telefone do sujeito. Ligou e foi uma discussão braba, até que o Claude o ameaçou, dizendo saber de coisas dele e mandou deixar a gente livre dessa. Então o filipino marcou um encontro para que nós pudéssemos devolver as chaves do imóvel.

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